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A Imigração Espanhola no Brasil

A Imigração

A Imigração Espanhola no Brasil


No final do século XIX, a Espanha era um país pobre, que entrou de forma tardia no processo de industrialização. A imigração espanhola foi impulsionada por fatores demográficos e por questões decorrentes da manutenção de uma estrutura fundiária arcaica. Até 1900, cerca de 2/3 da população espanhola se ocupava direta ou indiretamente com as atividades agrárias. À medida que a população rural aumentava, os investimentos com a agricultura diminuíam. Na zona rural, ainda existiam práticas senhoriais como "censos", "foros", "subforos" em minifúndios miseráveis, onde uma família não conseguia o seu sustento pelo cultivo da terra. No sul, onde predominavam os latifúndios, a terra apenas mudou de proprietários quando houve a desapropriação dos domínios da Igreja Católica.

Além da pobreza presente nos campos, outros fatores incentivaram os espanhóis a abandonarem a Espanha. As pretensões coloniais espanholas e o recrutamento militar obrigatório também eram fatores que estimulavam os homens jovens a saírem do país, uma vez que era necessário pagar uma alta taxa para se desobrigar do serviço militar, a qual os camponeses pobres não conseguiam pagar. Sendo a maioria dos camponeses analfabetos e sem qualificação para o trabalho fabril nos centros urbanos espanhóis, restava a esses indivíduos procurar uma nova vida nas Américas.

Em fins do século XIX, com o desenvolvimento da tecnologia naval, milhares de pessoas saíram da Europa em busca de melhores condições de vida nas Américas.

Porto de Málaga em 1900  (Wenceslao Ruiz-Salinas Raggio)

No caso da Espanha, a imensa maioria rumava para suas colônias ou ex-colônias, pelos laços históricos e culturais que mantinham e, por esse fato, os destinos preferidos dos imigrantes espanhóis eram a Argentina e Cuba. Entre 1882 e 1930, 3.297.312 espanhóis imigraram, dos quais 1.593.622 para a Argentina e 1.118.968 para Cuba. Para o Brasil imigraram 567.176 espanhóis no mesmo período. Observa-se, portanto, que no continente americano apenas a Argentina e Cuba receberam mais imigrantes espanhóis que o Brasil no período em questão. Em meados do século XX, Cuba deixa de atrair imigrantes espanhóis e é substituída pela Venezuela que, ao lado do Brasil e da Argentina, são os únicos países americanos para os quais ainda havia uma imigração de espanhóis. A partir da década de 1960 os espanhóis passaram a imigrar cada vez mais para outros países da Europa.

O que realmente contribuiu para haver uma imigração em massa de espanhóis para o Brasil foi o fato de o governo brasileiro subvencionar a passagem de navio. Viajar com a passagem gratuita era muito vantajoso, pois não era fácil bancar uma viagem migratória. Assim, pode-se concluir que os espanhóis que imigraram para o Brasil estavam entre os mais pobres, aqueles que não tinham condições de comprar uma passagem para ir para a Argentina, Cuba ou para o Uruguai. Isso se evidencia comparando-se as taxas de analfabetismo entre os espanhóis na Argentina e no Brasil. Na Argentina, a porcentagem de imigrantes espanhóis alfabetizados era mais elevada do que no Brasil. Embora o fato de falarem a mesma língua tenha contribuído para uma alfabetização após chegarem a Argentina, também pode-se concluir que o imigrante espanhol na Argentina tinha mais capital do que aquele no Brasil.

Conforme já informado, os espanhóis estavam entre os imigrantes mais pobres do Brasil. O índice de analfabetismo era altíssimo, superando largamente aquele encontrado entre italianos e portugueses. Eram atraídos para o Brasil muitas vezes por meio de propaganda enganosa feita pelos denominados "ganchos", que eram agentes que andavam pela Espanha vendendo uma imagem positiva do Brasil com o intuito de atrair imigrantes. No final do século XIX e no início do século XX, as fazendas de café do estado de São Paulo funcionavam com a constante chegada de mão-de-obra barata oriunda da Itália. Mas, frequentemente, tinha-se que buscar outras fontes de trabalhadores em Portugal e na Espanha, sobretudo após a proibição da imigração subsidiada pela Itália, em 1902, em decorrência das péssimas condições de trabalho a que eram submetidos esses italianos. Em 1910, a Espanha fez o mesmo, por meio de uma proibição da imigração subsidiada para o Brasil. Porém, tal proibição não teve efeito, pois a imigração clandestina via Gibraltar se intensificou, tanto que o ano de 1912 foi um auge da imigração espanhola para o Brasil.

Imigrantes espanhóis e suas bagagens (Ángel Blanco)

Estes imigrantes espanhóis, na grande maioria pobres, embarcavam para o Brasil enganados, muitas vezes acreditando que estavam indo para a Argentina, que era o principal país receptor de imigrantes da Espanha na época. Aliás, a Argentina sempre foi um problema para a política imigratória brasileira, pois era o destino preferencial de muitos estrangeiros.

Assim, muitos imigrantes para lá se deslocavam após chegarem no Brasil e perceberem que aqui não havia boas perspectivas. "Na Argentina não ocorre como no Brasil, onde, além de oferecer graves inconvenientes para a saúde, os naturais têm ódio letal pelos estranhos" escreveu uma autoridade diplomática espanhola, em 1911.

O impacto negativo que os imigrantes tinham com o Brasil se dava imediatamente na chegada à lavoura cafeeira, ao perceberem que eram péssimas as condições de trabalho e que as remunerações eram baixas. Dessa forma, estes imigrantes vagavam de fazenda em fazenda, buscando melhores condições salariais, para poderem retornar à Espanha (o que poucos conseguiram) ou para acumularem capital com o objetivo de comprar um pedaço de terra. Muitos percebiam que era inútil permanecer no campo, e viam na cidade de São Paulo/SP uma alternativa para tentar melhorar de condição, seja trabalhando na indústria como operários, ou na área de serviços. A cidade de São Paulo foi o destino principal desses imigrantes desiludidos com as péssimas condições no campo.

A imigração espanhola para o Brasil foi tímida durante quase todo o século XIX. Os poucos que chegavam eram sobretudo galegos, homens sozinhos que emigravam por conta própria e se fixavam nos centros urbanos brasileiros. Um perfil imigratório até então bastante similar ao dos vizinhos portugueses. A vinda de imigrantes da Espanha para o Brasil foi, portanto, um movimento imigratório tardio, que só se intensificou a partir da década de 1890, quando o governo brasileiro passou a despender grande quantia de dinheiro subsidiando a passagem de famílias espanholas com destino às zonas cafeeiras no interior do estado de São Paulo. A imigração subvencionada funcionou sobretudo na Andalucía, região com grande número de camponeses pobres. Seduzidos pelos "ganchos", emissários enviados às províncias com o intuito de persuadir as pessoas a emigrarem para o Brasil, "sempre com o chamariz da passagem gratuita e com base numa propaganda persistente, repetitiva e sugestiva", esses "ganchos" conseguiam convencer milhares de pessoas a emigrar, o que não era difícil, haja vista o grande número de pessoas que viviam na penúria naquela região espanhola.

Segundo o censo de 1920, dos 219.142 espanhóis vivendo no Brasil, 80% estavam no Estado de São Paulo, sendo a maioria procedente da Região da Andalucía e foram destinados sobretudo para as plantações de café do interior do estado. Foi uma imigração familiar, com grande número de mulheres e crianças. A comunidade espanhola estava presente em todo o estado de São Paulo. De acordo com uma pesquisa de 1933, a maior concentração de espanhóis foi encontrada na região das cidades de Catanduva/SP, São José do Rio Preto/SP, Araraquara/SP e Santa Adélia/SP, com 108.000 espanhóis. Em seguida, na parte central do estado, em cidades como Campinas/SP, Sorocaba/SP, Itu/SP e Jundiaí/SP, com 28.000. O noroeste do estado de São Paulo, em cidades como Bauru/SP, Araçatuba/SP e Marília/SP, tinha 45.000 espanhóis. Dessa forma, cerca de 75% da comunidade espanhola no estado de São Paulo estava concentrada na região de Araraquara/SP e no noroeste e, nessa zona, sobretudo nas cidades de Tanabi/SP, Mirassol/SP, Nova Granada/SP (em homenagem à cidade espanhola de Granada), São José do Rio Preto/SP e Olímpia/SP. A cidade de São Paulo/SP tinha 50.000 espanhóis. Segundo o censo de 1913, em Santos/SP vivia uma população de 8.343 espanhóis, em uma população de 39.802 pessoas. Em 1931, havia 11.982 espanhóis em Santos, em uma população de 125.941 pessoas (ou 9,51% da população total).

Depois do estado de São Paulo, o estado do Rio de Janeiro foi o principal destino da imigração espanhola. Nesse estado, a maioria era proveniente da região da Galícia. Cerca de 450 mil espanhóis entraram no Brasil entre 1880 e 1914, sendo que 126.833 desembarcaram no Rio de Janeiro/RJ. Desses, a maioria era procedente do porto galego de Vigo. Houve um grande predomínio de homens espanhóis imigrando para o Rio de Janeiro/RJ, havendo reduzida participação feminina.

O censo de 1890 contabilizou a presença de 10.800 espanhóis na cidade do Rio de Janeiro/RJ, número que cresceu para 20.699 em 1906, embora as taxas de retorno alcançassem os 50%. Devido às similaridades entre galegos e portugueses, no Rio de Janeiro/RJ todos os imigrantes ibéricos eram chamados, de forma pejorativa, de "galegos". Do mesmo modo que os portugueses, os galegos concentravam-se nas regiões urbanas do Rio de Janeiro/RJ, exercendo atividades no comércio de retalho e no setor de cafés, bares, botequins, pensões e hotelaria. Muitos ingressaram nas fileiras de operários que se formavam no Rio de Janeiro do início do século XX. O estado Minas Gerais também recebeu um expressivo contingente de espanhóis no século XIX.

A transição dos espanhóis de imigrantes paupérrimos para os estratos médios e altos da sociedade brasileira não teve um modelo típico. Alguns conseguiam acumular capital no campo e aplicavam na cidade em pequenos negócios. Outros se dedicavam à construção civil, trabalhavam na indústria ou como profissionais liberais. Eis que alguns imigrantes, que chegavam na penúria, depois de anos conseguiam ascender socialmente. O sonho de voltar para a Espanha era enterrado, à medida que os filhos nasciam no Brasil e que na terra de acolhimento conseguiam acumular capital suficiente para prover seu próprio sustento e de sua família. As marcas deixadas pelos espanhóis no Brasil não são evidentes como as deixadas por outros imigrantes. Ao contrário de alemães e italianos, que conseguiram formar colônias isoladas onde retiveram a língua e o patrimônio cultural, os espanhóis se dirigiram para as plantações de café e para os centros urbanos, onde eles eram minoria em meio aos brasileiros e a outros grupos de imigrantes, porém, pode-se afirmar que contribuíram de maneira efetiva para a economia e para a cultura brasileira e para a construção social do Brasil moderno.



Fonte: Texto base obtido junto ao site pt.wikipedia.org

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