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A Imigração Espanhola no Brasil
No final do século XIX, a Espanha era um país pobre, que entrou de forma tardia no processo de industrialização. A imigração espanhola foi impulsionada por fatores demográficos e por questões decorrentes da manutenção de uma estrutura fundiária arcaica. Até 1900, cerca de 2/3 da população espanhola se ocupava direta ou indiretamente com as atividades agrárias. À medida que a população rural aumentava, os investimentos com a agricultura diminuíam. Na zona rural, ainda existiam práticas senhoriais como "censos", "foros", "subforos" em minifúndios miseráveis, onde uma família não conseguia o seu sustento pelo cultivo da terra. No sul do país, onde predominavam os latifúndios, a terra apenas mudou de proprietários quando houve a desapropriação dos domínios da Igreja Católica.
Além da pobreza presente nos campos, outros fatores incentivaram os espanhóis a abandonarem a Espanha. As pretensões coloniais espanholas e o recrutamento militar obrigatório também eram fatores que estimulavam os homens jovens a saírem do país, uma vez que era necessário pagar uma alta taxa para se desobrigar do serviço militar, a qual os camponeses pobres não conseguiam pagar. Sendo a maioria dos camponeses analfabetos e sem qualificação para o trabalho fabril nos centros urbanos espanhóis, restava a esses indivíduos procurar uma nova vida em outros lugares.
Em fins do século XIX, com o desenvolvimento da tecnologia naval, milhares de pessoas saíram da Europa em busca de melhores condições de vida nas Américas.
Porto de Málaga em 1900 (Wenceslao Ruiz- |
No caso da Espanha, a imensa maioria rumava para suas colônias ou ex-
A imigração espanhola para o Brasil foi tímida durante quase todo o século XIX. Os poucos que chegavam eram sobretudo galegos, homens sozinhos que emigravam por conta própria e se fixavam nos centros urbanos brasileiros. Um perfil imigratório até então bastante similar ao dos vizinhos portugueses. A vinda de imigrantes da Espanha para o Brasil foi, portanto, um movimento imigratório tardio, que só se intensificou a partir da década de 1890, quando o governo brasileiro passou a despender grande quantia de dinheiro subsidiando as passagens de navio de famílias espanholas com destino às zonas cafeeiras no interior do estado de São Paulo. A imigração subvencionada funcionou sobretudo na região da Andalucía, região com grande número de camponeses pobres. Esta imigração subvencionada realmente contribuiu para haver uma imigração em massa de espanhóis para o Brasil, pois viajar com a passagem gratuita era muito vantajoso, em função das dificuldades financeiras de bancar uma viagem migratória.
No final do século XIX e no início do século XX, as fazendas de café do estado de São Paulo funcionavam com a constante chegada de mão-
Imigrantes espanhóis e suas bagagens (Ángel Blanco) |
Os espanhóis que imigraram para o Brasil estavam entre os mais pobres, aqueles que não tinham condições de comprar uma passagem para ir para a Argentina ou Cuba. O índice de analfabetismo era altíssimo, superando largamente aquele encontrado entre italianos e portugueses. Isso se evidencia também, comparando-
Na Argentina, a porcentagem de imigrantes espanhóis alfabetizados era mais elevada do que no Brasil. Embora o fato de falarem a mesma língua tenha contribuído para uma alfabetização após chegarem a Argentina, também pode-
Os imigrantes espanhóis eram atraídos para o Brasil, muitas vezes, por meio de propaganda enganosa feita pelos denominados "ganchos", que eram agentes enviados às províncias espanholas, vendendo uma imagem positiva do Brasil, com o intuito de seduzir e atrair imigrantes, persuadindo as pessoas a emigrarem para o Brasil. Sempre com o chamariz da passagem gratuita e com base numa propaganda persistente, repetitiva e sugestiva, esses "ganchos" conseguiam convencer milhares de pessoas a emigrar, o que não era difícil, haja vista o grande número de pessoas que viviam na penúria naquela região espanhola (Andalucía).
Os imigrantes espanhóis que não desejavam embarcar para o Brasil, muitas vezes eram enganados. Acreditando que estavam indo para a Argentina, que era o principal país receptor de imigrantes da Espanha na época, acabavam por desembarcar em portos brasileiros. Aliás, a Argentina sempre foi um problema para a política imigratória brasileira, pois era o destino preferencial de muitos estrangeiros.
Assim, muitos imigrantes para lá se deslocavam após chegarem no Brasil e perceberem que aqui não havia boas perspectivas. "Na Argentina não ocorre como no Brasil, onde, além de oferecer graves inconvenientes para a saúde, os naturais têm ódio letal pelos estranhos...", escreveu uma autoridade diplomática espanhola, em 1911.
O impacto negativo que os imigrantes tinham com o Brasil se dava imediatamente na chegada à lavoura cafeeira, ao perceberem que eram péssimas as condições de trabalho e que as remunerações eram baixas. Dessa forma, estes imigrantes vagavam de fazenda em fazenda, buscando melhores condições salariais, para poderem retornar à Espanha (o que poucos conseguiram) ou para acumularem capital com o objetivo de comprar um pedaço de terra. Muitos percebiam que era inútil permanecer no campo, e viam na cidade de São Paulo/SP uma alternativa para tentar melhorar de condição, seja trabalhando na indústria como operários, ou na área de serviços. A cidade de São Paulo/SP foi o destino principal desses imigrantes desiludidos com as péssimas condições no campo.
Segundo o censo de 1920, dos 219.142 espanhóis vivendo no Brasil, 80% estavam no estado de São Paulo, sendo a maioria procedente da região da Andalucía e foram destinados sobretudo para as plantações de café do interior do estado. Foi uma imigração familiar, com grande número de mulheres e crianças. A comunidade espanhola estava presente em todo o estado de São Paulo. De acordo com uma pesquisa de 1933, a maior concentração de espanhóis foi encontrada nas regiões das cidades de Araraquara/SP, Catanduva/SP, Santa Adélia/SP e São José do Rio Preto/SP, onde havia 108.000 espanhóis. Nas regiões das cidades de Araçatuba/SP, Bauru/SP e Marília/SP, havia 45.000 espanhóis. Nas regiões das cidades de Campinas/SP, Itu/SP, Jundiaí/SP e Sorocaba/SP, havia 28.000 espanhóis. Dessa forma, cerca de 75% da comunidade espanhola no estado de São Paulo estava concentrada na região de Araraquara/SP e na região de São José do Rio Preto (principalmente nas cidades de Tanabi/SP, Mirassol/SP, Nova Granada/SP (em homenagem à cidade espanhola de Granada), São José do Rio Preto/SP e Olímpia/SP). Na cidade de São Paulo/SP havia aproximadamente 50.000 espanhóis. Segundo o censo de 1913, em Santos/SP vivia uma população de 8.343 espanhóis, em uma população de 39.802 pessoas. Em 1931, havia 11.982 espanhóis em Santos, em uma população de 125.941 pessoas (ou 9,51% da população total).
Depois do estado de São Paulo, o estado do Rio de Janeiro foi o principal destino da imigração espanhola. Nesse estado, a maioria era proveniente da região da Galícia. Cerca de 450 mil espanhóis entraram no Brasil entre 1880 e 1914, sendo que 126.833 desembarcaram no porto do Rio de Janeiro/RJ. Desses, a maioria era procedente do porto galego de Vigo. Houve um grande predomínio de homens espanhóis imigrando para o estado do Rio de Janeiro, havendo reduzida participação feminina.
O censo de 1890 contabilizou a presença de 10.800 espanhóis na cidade do Rio de Janeiro/RJ, número que cresceu para 20.699 em 1906, embora as taxas de retorno alcançassem os 50%. Devido às similaridades entre galegos e portugueses, no estado do Rio de Janeiro todos os imigrantes ibéricos eram chamados, de forma pejorativa, de "galegos". Do mesmo modo que os portugueses, os galegos concentravam-
A transição dos espanhóis de imigrantes paupérrimos para os estratos médios e altos da sociedade brasileira não teve um modelo típico. Alguns conseguiam acumular capital no campo e aplicavam na cidade em pequenos negócios. Outros se dedicavam à construção civil, trabalhavam na indústria ou como profissionais liberais. Eis que alguns imigrantes, que chegavam na penúria, depois de anos conseguiam ascender socialmente. O sonho de voltar para a Espanha era enterrado, à medida que os filhos nasciam no Brasil e que na terra de acolhimento conseguiam acumular capital suficiente para prover seu próprio sustento e de sua família. As marcas deixadas pelos espanhóis no Brasil não são evidentes como as deixadas por outros imigrantes. Ao contrário de alemães e italianos, que conseguiram formar colônias isoladas onde retiveram a língua e o patrimônio cultural, os espanhóis se dirigiram para as plantações de café e para os centros urbanos, onde eles eram minoria em meio aos brasileiros e a outros grupos de imigrantes.
Porém, mesmo considerando que as marcas deixadas pelos espanhóis no Brasil não são evidentes como as deixadas por outros imigrantes, pode-
Fonte: Texto base obtido junto ao site pt.wikipedia.org