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Hospedaria de Imigrantes

A Imigração

Hospedaria de Imigrantes


O prédio da antiga Hospedaria de Imigrantes (atual Museu da Imigração do Estado de São Paulo), localiza-se no bairro da Mooca, na cidade de São Paulo/SP. Foi um dos instrumentos de infraestrutura montada pelo governo brasileiro para apoiar o fluxo imigratório que se desenvolveu a partir de 1875. No Brasil havia também outro alojamento para esse fim, na cidade do Rio de Janeiro/RJ, denominado Hospedaria dos Imigrantes Ilha das Flores, na Ilha das Flores.

A chegada de imigrantes, promovida pelos governos do Brasil e da Itália, realizava-se através dos portos de Santos/SP e na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Os imigrantes com destino a outros estados, como Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e outros, eram reembarcados em navios menores pertencentes ao governo brasileiro.

De forma organizada, podemos afirmar que 1847 foi o ano da chegada dos primeiros imigrantes ao Brasil, para trabalharem na lavoura de café. O Senador Nicolau Pereira de Campo Vergueiro (mais conhecido como Senador Vergueiro) foi quem promoveu essa primeira experiência, trazendo 80 famílias de alemães para trabalharem na fazenda Ibicaba (fundada em 1817) de sua propriedade.

Antiga Hospedaria de Imigrantes em  São Paulo/SP (MIESP)

Naquela época, a fazenda Ibicaba pertencia ao município de Limeira/SP, sendo que após o desmembramento desse município, a mesma passou a pertencer ao município de Cordeirópolis/SP.

A empresa do Senador Vergueiro, chamada Vergueiro & Cia, recrutava os imigrantes, financiava a viagem e o imigrante tinha que quitar sua dívida trabalhando por, pelo menos, 4 anos. A cada família cabia um número determinado de pés de café que pudesse cultivar, colher e beneficiar, além de roças para o plantio de mantimentos. O produto da venda do café era partido entre colono e fazendeiro, devendo prevalecer o mesmo princípio para sobras de mantimentos que o colono viesse a vender. Esses contratos ficaram conhecidos como "sistema de parceria". Com o passar dos anos, cerca de mil pessoas entre alemães, suíços e portugueses viviam na fazenda Ibicaba, que era quase independente, havendo até circulação interna de moeda própria. Durante uma década, o modelo de colonização obteve sucesso e serviu de exemplo para todo país.

Como citado, esses primeiros colonos vieram para trabalhar em regime de parceria, desembarcando no porto de Santos/SP,
seguindo de carroção e em lombos de mulas até a referida fazenda. Pelas dificuldades que se pode imaginar que esses "pioneiros" enfrentaram, sob todos os aspectos, e com a continuidade da chegada de novos imigrantes (lenta, porém constantes), as autoridades brasileiras sentiram a necessidade de apoiá-los no primeiro momento de sua chegada à nova terra.

Coube ao presidente da
Província de São Paulo, Antônio de Queiroz Telles (Conde de Parnaíba) iniciar, em terreno localizado nas imediações da estrada de ferro São Paulo Railway, no bairro da Mooca, na cidade de São Paulo/SP, a construção do prédio que veio a ser denominado "Hospedaria de Imigrantes". O prédio foi projetado por Antônio Mateus Haussler, teve suas as obras iniciadas em 18 de maio de 1886 e terminadas em fins de 1888. Construído em forma de "E", possuía dois pavimentos com capacidade para abrigar 3.000 imigrantes, apesar de em condições excepcionais, hospedar até 8.000 pessoas. Contava com gás encanado, reservatório de água, dois refeitórios com mesa para 800 pessoas, berçários, hospital, enfermaria, 31 banheiros com água fria e quente, sanitários com descargas automáticas, estufa para desinfetar roupas, agência de correios, posto policial, unidade da Agência Oficial de Colonização e Trabalho (responsável pelo encaminhamento das famílias para as fazendas do interior paulista), ramal ferroviário vindo do porto de Santos/SP e ramal ferroviário com destino ao interior do estado de São Paulo.

Desembarque na estação da Hospedaria de Imigrantes (MIESP)

A Hospedaria de Imigrantes começou a funcionar em 19 de junho de 1887, de forma precária, com um terço de suas instalações concluídas, sob a administração da "Sociedade Promotora da Imigração", pois, com as epidemias de varíola e difteria no alojamento dos imigrantes do Bom Retiro, a saúde pública decidiu fechar o albergue. Com a Carta Constitucional do Estado de São Paulo, em 1892, a Secretaria de Agricultura, Viação e Obras Públicas assume a administração da Hospedaria de Imigrantes.

Ao chegarem à hospedaria, vindos de trem do porto de Santos/SP, os imigrantes tomavam conhecimento do regulamento interno (escrito em seis idiomas) e recebiam uma refeição.

No dia seguinte, eram submetidos à vacinação, conferência e registro dos dados pessoais, não só do imigrante chefe da família, como também dos seus familiares, para emissão da caderneta de identificação. O regulamento da Hospedaria de Imigrantes, que passou por várias modificações, proporcionava basicamente aos imigrantes, além da infraestrutura predial, o transporte mencionado e serviços de apoio como: hospedagens por um período máximo de 8 dias, com alojamentos para mulheres e homens solteiros e também para casais com crianças; 4 refeições diárias: café da manhã, almoço, jantar e ceia (antes de dormirem), que consistiam de pão, café,  leite, carne, feijão, arroz, batata, verduras. Pão com salame era o lanche para a viagem até a fazenda de destino onde iriam residir e trabalhar; tratamentos médico e hospitalar; serviços de agentes para facilitar a colocação nas fazendas cafeeiras; intérpretes da Agência Oficial de Colonização e Trabalho, para facilitar as negociações com os novos patrões e na elaboração do contrato de trabalho que era transcrito na caderneta do imigrante.

O tratamento dado aos imigrantes na ocasião da chegada dos mesmos ao Brasil, tanto na Hospedaria de Imigrantes em São Paulo/SP, como na Hospedaria da Ilha das Flores no Rio de Janeiro/RJ, era considerado por eles como muito bom, o que pode ser comprovado através de relatos reais como os do grupo de imigrantes da Província de Cremona, provenientes da cidade de Torricella del Pizzo, de onde partiram em 25 de outubro de 1886 com destino ao
estado do Rio de Janeiro, sendo que após o desembarque, foram alojados na Hospedaria da Ilha da Flores, conforme consta na página 151 do livro Grama Humana — A Grama do Senhor, de autoria de Remo Rômulo Farina:

"Na hospedaria dos imigrantes, na Ilha das Flores, o casarão é acolhedor, registram-se constantes movimentações de pessoas e bagagens, elementos de origem e procedência diversas chegam atarantados em busca de acomodação: outros saem apressados, para reembarcar, cada qual com o seu projeto pessoal. Um avultado grupo que segue para as fazendas de São Paulo desocupa um laço do prédio, que nos é cedido pela administração. As instalações internas, iguais às coisas sovadas pelo uso continuado de gente do povo, carecem de algum reparo, mas, ainda sim, superam as da segunda linha do navio "Cinirio" (grafia correta é Cenisio), que nos aninhara, em seus porões, em condições muito precárias. O feijão preto com arroz entram em nossas vidas para ficar.

A alimentação, de modo geral, é boa, substanciosa, bastantes frutas e café. Claro, não há vinho, nem faz falta. A água é fresca, límpida, pura, uma benção do Céu, depois de tanta carência a bordo do navio "Cinirio" que nos trouxe da Itália. Limpeza, assistência sanitária, a todo o momento. Como a vós somos gratos, Senhor!

Por mim, não sairia daqui, nunca. Os familiares pensam da mesma forma. Graças a essa bendita pausa reparadora, a restauração das forças físicas e psíquicas vai se completando auspiciosamente. Em poucos dias, a cor e o sorriso reaparecem no semblante. Stefano, Clemente e Giacomo, em modo especial, bem como os demais membros do clã, recobraram-se e continuam a se reabilitar, mostrando-se agora receptivos e alegres.

Talvez haja até um conteúdo de exagero nesse otimismo, após tantas privações sofridas."

Devemos lembrar que a saga do imigrante estava apenas começando. Se os dias na hospedaria pareciam um sonho, o pior estava ainda por vir, quando da chegada ao novo posto de trabalho nas fazendas cafeeiras ou nas terras a serem colonizadas no sul e em outras partes do Brasil.


De acordo com levantamento efetuado pelo geógrafo francês Pierre Monbeig, junto aos registros de entradas da Hospedaria de Imigrantes entre os anos de 1898 a 1902, os principais destinos dos imigrantes no estado de São Paulo foram Jaú/SP (6.191 imigrantes), Araraquara/SP (7.679 imigrantes), São Carlos/SP (7.739 imigrantes), São Simão/SP (7.837 imigrantes) e Ribeirão Preto/SP (14.293 imigrantes).



Fonte: Texto base obtido junto ao site www.acatarbattistella.com.br

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